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O bem não faz barulho e o barulho não faz bem", afirma o bispo dom José Cordeiro sobre as virtudes do silêncio e da humildade de São José
São José é um modelo de esposo e pai “fora de moda” em nossa sociedade exibida, comentou o presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade de Portugal, dom José Cordeiro, em entrevista à rádio portuguesa Renascença .
Ele falou sobre o corrente ano dedicado a São José pelo Papa Francisco (8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021), em celebração dos 150 anos da sua declaração como padroeiro da Igreja universal. A este propósito, o Papa publicou a carta apostólica “Patris Corde” (“Com coração de pai”), na qual recorda que, “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício quanto José, seu esposo”.
Dom José Cordeiro fala de seu santo xará São José como modelo de marido e pai numa sociedade em que algumas correntes ideológicas tacham esse modelo de “fora de moda”:
“São José é sempre atual, é um de nós (…) E é figura essencial na relação com a esposa e com o filho. Há um autor italiano, dom Tonino Bello, um bispo que já faleceu, que dizia que talvez o maior sacrilégio da nossa civilização seja o de pensar que para fazer uma mesa basta madeira. Ele dizia: ‘Não, a madeira vem da árvore, a árvore vem da semente e da flor’, e, por isso, para fazer uma mesa, um carpinteiro como José precisa de uma flor (…) Não deixar apenas aos poetas esta beleza e o cuidado da vida. Por isso, São José é modelo atual da relação humana e da compreensão da vida como cuidado integral”.
São José é um modelo de esposo e pai “fora de moda” em nossa sociedade exibida
A entrevista também falou de outras virtudes de São José que parecem incompatíveis com a atual sociedade barulhenta e exibida, como é o caso do silêncio e da humildade. Dom José comentou:
“Um dos marcadores identitários de São José é a humildade e, ao mesmo tempo, o silêncio e o trabalho; o silêncio que fala, e não é aquele que está constantemente a aparecer, porque o bem não faz barulho e o barulho também não faz bem. E São José não é daqueles que fazem selfies, mas é aquele que cuida da esposa, do filho, dos outros e alguém também que sofre. A compreensão da vida ensina-nos que quem nunca sofreu que se pergunte a si mesmo se alguma vez amou, porque o sofrimento e o amor estão interligados e isso só pode ser na humildade. Por isso mesmo é que ele é o modelo atual e algo a que este ano, dedicado a São José, também pode provocar em todos e em cada um de nós”.
E o que dizer das críticas de uma parcela da sociedade à Igreja por apresentar um modelo humano que alguns consideram “apagado, sem voz ativa, submisso”?
“O Papa Francisco diz que o desejo da criação deste ano de São José e da carta que escreveu – Com Coração de Pai – nasceu também neste tempo de pandemia e, sobretudo, olhando às pessoas mais comuns, que não aparecem, mas que são elas que fazem avançar a história da humanidade e os serviços essenciais e constitutivos de cada dia (…) Não é no sentido da submissão, mas da liberdade maior que nasce da humildade, que é andar na verdade, ter os pés assentes no húmus, na terra, mas o olhar e o coração a apontar para a frente e para o alto (…)
São José tem essa grande missão de ser o cuidador dos mistérios de Cristo e da sua esposa, Maria, e apresentá-lo assim à Igreja na ternura, na bondade, no silêncio, no trabalho, todos aqueles valores que nós admiramos em São José e que o Papa Francisco sublinhou nas sete características da paternidade de São José (…) Admiro a escuta aos sonhos de Deus. Ele é alguém que sonha em Cristo, à grande. Eu admiro a consequência disso, a coragem criativa e a confiança crente. É preciso, hoje, continuar a sonhar em grande, à luz da Palavra de Deus, e não termos medo de ser como São José e de irmos até ele, na sua intercessão. Pessoalmente, isso encoraja-me todos os dias”.